"A minha necessidade de falar com os outros"
«Desde pequeno que tenho dificuldade em controlar a minha necessidade de falar com os outros. Aos dois anos, empoleirava-me na varanda e durante horas , tinha conversas com pássaros, carros e vizinhos. Os meus pais diziam orgulhosos : “o menino vai ser tribuno”. No entanto, a política naquela altura não me seduzia por aí além. Já o Babar tinha um efeito estrondoso.
No infantário, não dormia a sesta. Chateava o do lado. Se estava sozinho, falava com paredes.
Quando numa roda todos deviam enunciar, orgulhosamente, o seu número de telefone de casa e morada, eu dissertava. Sobre o meu cão que era amarelo, sobre a fábrica de donettes que queria comprar e como queria ser cantor e interpretar o “À noite na cidade”, da Anabela.
No final da primária, tive a sorte de poder falar com os outros pela primeira vez, sem ser seviciado. Foi-me dado o privilégio de fazer uma reportagem para o “Mundo VIP” com a Ana Marques onde disse de peito inchado : “Rui Maria Pêgo, SIC, Alentejo”. E fez sentido.
Há quem seja chamado por Deus, eu fui chamado pela Impresa.
Acho que a partir desse dia, todos perceberam que a maquilhagem não seria um exclusivo das meninas lá de casa. O facto de apregoar aos sete-ventos que iria ter um talk-show com o meu nome deve certamente ter ajudado a cimentar essa ideia.
Vou ser honesto. A televisão representa a hipótese de poder falar com toda a gente sem ser posto fora da aula. É a oportunidade de ouvir as estórias e opiniões dos outros sem ouvir a campainha que indicava o final do recreio ou um “shhh” de algum professor mais rabugento.
Parece estranho descrito assim não parece? Mas não é. Trata-se de um plano bem orquestrado. Eu sou o menino que se levantava às seis da manhã, para ouvir e cantar o genérico da televisão onde hoje trabalho. E o mesmo, que sente uma adrenalina imensa quando começa a ouvir uma contagem decrescente e os talíns a acenderem-se, um por um.
Calculo que os anestesistas também passem por isto. Por lá, também há contagens decrescentes e luzes a piscar. Duvido é que se divirtam tanto.
Na SIC Radical, diariamente, entre as 16h30 e as 18h30 isso acontece. Divirto-me e deixam-me falar com os outros, sem levar um recado para casa. Só um curto-circuito.»
in Notícias TV
Não é muito recente, mas decidi publicar na mesma porque está muito bom.
Parabéns ao Rui!
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