0

Post no blog

O Rui postou o seguinte seu blog:


Coragem

Ele gostava que fosse líquida e estivesse à venda em packs de 6 no Pão de Açúcar. Seria chegar, pagar, beber e tomar as decisões, manter as posturas e fazer o que se tinha a fazer.

Não tinha de ser forçosamente comercializada, podia ser dada pelo Estado, como moeda de troca por nos sugar até ao tutano. Tutano esse que muito precisa da dita coragem.
Mas isso seria encostar e ser subsidio-dependente.

E ele não queria. Queria ter coragem e não ser vampiro. Toda a gente pode ser vampiro.
Independente da forma como seria embalada, essa coragem - pensava ele - tinha de estar à mão.

Para casos como o dele. Para ele se ir embora. Para dizer chega. Para perceber que gostar mais dos outros do que dele é sabotagem. É dilacerante. É a pior coisa do mundo.
É preciso coragem para lutar sozinho mas muito mais, na opinião dele, para deixar de lutar.

Dizer: Não consigo. Não vou mais. Estou esgotado. Desisto.

Ele sabia. Sabia que essa coragem não estava à venda. Que não se encontrava sentada no metro nem em salas com luzes difusas e líbidos acesas. Não podia ser polvilhada em cima de bolos nem lhe iria enviar um friend request no facebook.

Provavelmente nem existia. Tinha de ser inventada. Como no dia em que alguém inventou a mentira. Conceito estranho mas de uma aplicação prática estonteante.

Ele inventou a coragem de ir embora. Não é líquida. Não é só sólida. Parece gasosa e sustenta-nos.

Tem de registar a patente, porque no amor, se dois falham, a coragem não pode falhar. Mesmo que seja, para perceber, quando é tempo de virar costas e seguir em frente.


0 comentários:

Enviar um comentário

Back to Top