O Rui escreveu um novo post no seu blog:
Há sono no meu quarto que não é meu. Sono disfrutado, diga-se. Há quem ressone, resfolegue, se vire na cama e diga coisas vagas durante o sono como : "abacaxi", "palmol" e "são trezentos maria, trezentos".
O aleatório diverte-me. Agora, podia fazer uma analogia bonita com slotmachines, mas não estou a escrever a biografia da Marina Mota nem a reler o Jogador.
Seja como for, gosto da aleatoriedade da vida. Especificamente, esta altura algures entre o rem e o ram, e alpha e beta e o omega, onde as pessoas dizem coisas sem qualquer tipo de nexo.
São pequenas bolhas de ar vindas do subconsciente.
Juro que tinha uma amiga que gritava "morcela" a meio da noite. E ouvi histórias de quem dissesse que ia ser morto por uma posta de pescada gigante. Sim, durmi entre 2006 a 2008 com alguém que tinha um distúrbio alimentar. Gosto de gordas. Qual é o problema?
Que parvoíce, não gosto nada. Apenas gosto de poder dizer obesidade mórbida muitas vezes. Porque se pensarmos nisso, quando é que podemos utilizar as palavras, mórbida e obesidade, no dia-a-dia? Não é possível. Daí a minha ligação à Ivone. Sou uma pessoa determinada.
Agora que penso nisso, sempre que vou ao Casino de Lisboa, fico deprimido. Porque tenho a perfeita noção de que aquelas velhinhas estão a torrar as reformas, os homens de meia-idade, os lápis HB dos filhos e as senhoras com implantes mamários e roupas reduzidas, a paciência do barman que lhes quer vender um panaché.
É perturbador. Não, o panaché. Mas a realidade paralela que ali se vive. É interessante, imaginar que existem outras dimensões e que a minha empregada é no fundo, um alien fugido ao SEF, mas, às 16h, num qualquer casino português, vê-se a miséria com cores brilhantes e com limite mínimo de idade.
Não só miséria stricto senso, mas miséria humana. As caras de quem se senta, hora após hora em frente a uma daquelas máquinas vai sendo sugada. E os ordenados, e os subsídios de férias e o dinheiro que o filho escuteiro amealhou com a venda das bolachas que fez com a mãe no domingo passado.
Não falo dos rapazes e raparigas que vão ao casino de vez em quando. Ganhar umas coisas. Gastar 1/4 da mesada em bebidas e más apostas. Falo, de quem não consegue suportar a luz meia de talho de uma ecológica lâmpada fosforescente do candeeiro lá de casa, e precise de toda um gama de cerejas, cifrões e patos (porquê patos?).
Incrível, como as portas giratórias são para alguns, o mesmo que para nós é ter um orgasmo.
Por trás delas, estão mesas de blackjack, roleta, jogos electrónicos vários, croupiers, cores, bebidas e campainhas. Muitas campainhas.
Não desgosto do imaginário. Já a ludopatia, não a convidava para um café.
Conheço gente que já ficou com a vida virada do avesso, por gostar de luzes a piscar.
E muito provavelmente, vou ter a imagem de velhinha com cerca de 75 anos, olhar apagado, abrir e fechar de maxilar - demasiado frequente - ombros irrequietos e mão voraz, para sempre na cabeça.
Ali não havia artrite, mas havia cegueira.
Escrito a 8/6/2010
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